quinta-feira, setembro 10, 2009

Doar energia
Indiferença não oprime superação
Literalmente com a mão na roda, cadeirantes fazem gols conquistando espaço

Deficiência física, como considera o exposto na legislação “é a alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, comprometendo a função física”. Essa recomendação não faz parte do dia-a-dia de um grupo de atletas da região. Para eles, difícil mesmo é ficar fora de uma partida ou deixar de treinar três vezes por semana.
Não fazem da cadeira um obstáculo, mas alavanca para seguirem em frente, marcando espaço em uma quadra, antes só frequentada pelos chamados “atletas”.
Para fugir dos números frios de pesquisas como a do IBGE em 2000, codificando 930 mil pessoas em cadeiras de rodas só no Brasil, eles botaram o time na quadra e mostraram que apesar da marca ‘cadeirante' seja ela adquirida por acidentes ou enfermidades, é possível concentrar as arquibancadas para vibrar por um novo time.
Assim se revela outro significado sobre valores morais, através de novas interpretações depois destes 15 cadeirantes de São Miguel do Iguaçu e Medianeira – região oeste do Paraná - darem o primeiro passo, com a mão na roda mostram a garra e a persistência.
O time iniciou com cinco jogadores em outubro do ano passado, contando com um projeto acadêmico de dois professores, Anselmo de Athayde Costa e Silva e Douglas Borella. Hoje as duas cidades se encontram afim de tornar o jogo um crescimento moral e social, tanto para eles quanto para a sociedade. “A cada dia de treinamento, eles descobrem que são capazes de realizar movimentos e atividades que acreditavam ser impossíveis, devido aos comprometimentos”, diz o treinador Ronaldo Alves.
Como para o esporte não existe limites. A afirmação se confirma na intimidade com a bola, na adrenalina de estar em quadra e na flexibilidade entre empurrar à cadeira e quicar a bola. “O handebol para mim é superação e mudança na imagem de como o deficiente é visto”, observa Juliano Neris, 33, cadeirante e aluno do HCR (Handebol em Cadeiras de Rodas), o qual possui deficiência devido à cirurgia mal sucedida.

O não movimento das pernas, não impossibilita acertar a mira desejada


Precisa-se de colaboradores para doar energia!
Como treinador e também educador físico, Ronaldo Alves completa que as habilidades que o esporte proporciona vão muito além. “Eles não possuíam uma vida social ativa, conheciam poucas pessoas, e saindo de casa para praticar um esporte, se sociabilizar com outros deficientes, melhorou a auto-estima deles e os faz mais felizes”, finaliza.
A dificuldade dos que têm condições reduzidas em deslocar pela cidade perturba e aumenta a exclusão social. Existem leis que prescrevem a inclusão social dos deficientes, como a 7853, de 24 de outubro de 1989, fala que são estabelecidas normas para “assegurar os direitos individuais e sociais (...) e sua efetiva integração social”.
No entanto, para os participantes do Handebol em Cadeiras de roda, andar na cadeira se tornou uma aventura. Segundo o presidente da Associação dos Deficientes Físicos de Medianeira Eliseo Portela, não é possível acompanhar uma sessão da Câmara, nem um jogo no ginásio municipal, nem freqüentar a biblioteca pública que é localizada no piso acima do Banco do Brasil, nem um evento teatral no Centro Popular de Cultura Arandurá.
A acessibilidade é norma para todos os edifícios públicos, aprovados na Constituição Federal e outros regulamentos. Os desafios não podem impedir uma vida compartilhada com os demais. O esporte fez com que os novos esportistas demonstrassem que as dificuldades da mobilidade física jamais poderia abalar um desejo, mesmo que este seja jogar handebol. Agora, eles querem ultrapassar obstáculos e vencer campeonatos. Três atletas deste time já foram convidados para participar do Itajaí Cup 2009, disputando para outros municípios. “Para 2010 pretendemos ir com nosso time para o Itajaí Cup”, relata Ronaldo Alves.
Qualificação não falta, o esperado é treinar com cadeiras adaptadas. Em São Miguel do Iguaçu, a Prefeitura é quem cede o professor de Educação Física, equipamentos esportivos e ginásio.
Para que aqueles percalços urbanos não motivem ao isolamento, a sociedade pode colaborar doando energia a estes cadeirantes esportistas para que continuem nessas perspectivas com qualidade.
O time aproveita para agradecer aos primeiros colaboradores, Naty Modas, Posto Marzinho e Brighente Malhas. Faça como esses empresários e seja você também um parceiro do time de Handebol em Cadeira de rodas de São Miguel do Iguaçu.
Incentive essa nova modalidade! Mais informações no (45) 9944-8781 com Ronaldo.
A seguir, o documentário Espaço à deficientes, mostra um exemplo de como o pré-julgamento das habilidades de uma pessoa com necessidades especiais está completamente ultrapassado. A acessibilidade não é assunto antigo, ainda vai ser muito debatido até que se tomem consciência que todos necessitam de acessos, desde uma mãe com seu bebê, um idoso ou deficiente.

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