quarta-feira, setembro 09, 2009

Vontade de mudar: trajetória de uma família que escolheu o Paraguai para viver

As dificuldades de ser ‘brasiguaio’ não abalaram a Família Bordgnon na confiança de melhorar de vida


Da sua cidade, de seu país de origem para um caminho, ou melhor, uma “terra” diferente. Diferente em língua, em pessoas, em costumes, enfim, viver em uma nova forma de cidadania.
Esse é o desafio que historicamente muitos agricultores brasileiros e
nfrentam para possuir terras no país vizinho, o Paraguai. Com o intuito de buscar novas oportunidades, acaba causando uma mudança no seu modo de vida.
Umas das famílias que são movidas pelas promessas de solos férteis do outro lado da Fronteira são da região Sul do Brasil, e para que fossem hoje donos dessas terras batalharam durante anos na agricultura.
Um exemplo é o agricultor Hugo Bordgnon que há 30 anos investe nas terras do Paraguai. Ele emigrou do oeste do Paraná, da cidade de São Miguel do Iguaçu para a República Paraguaia em 1971.
Sua propriedade agrícola é na cidade de Los Cedrales – a 30 Km de Ciudad del Este – primeira província ligada a Foz do Iguaçu. A cidade era uma fazenda de um brasileiro, que aos poucos comercializou suas terras.


Trajetória de luta
Um casal simples com três filhos em uma modesta vida no estado de Santa Catarina, mas com um pensamento voltado a mudança de vida, segue o rumo de outras pessoas (amigos) que diziam que no Paraná as propostas de trabalho para a agricultura eram boas. Hugo Bordgnon não pensou duas vezes e foi parar no interior da cidade de São Miguel do Iguaçu – oeste do Paraná.
Hugo e sua esposa constituíram uma grande família na cidade de São Miguel do Iguaçu, desde 1965 – quando chegaram ao Paraná, deixando a casa cheia com dez filhos (atualmente). Naquela época, eram maiores os conceitos comunitários dentro de uma família, onde cada ente familiar colaborava com o serviço da vida de campo. Bordgnon sabia muito bem o que era isso. Ensinou a cada filho como ter dignidade, ser trabalhador, lutar pelas suas terras, criar uma família, e principalmente administrar essas terras.
Ainda no distrito de Sanga Funda – em São Miguel do Iguaçu, o dia-a-dia de Hugo e sua família era batalhar pela subsistência, sempre com a idéia de chegar a uma vida estável. O suor que o sol quente, a poeira da terra vermelha, a falta de obra-prima sentidos no Paraná, não eram motivos para que a família Bordgnon desistisse.


Mudança de planos
‘De repente’, Hugo resolve mover sua história novamente, porém dessa vez não apenas trocar de Estado, mas agora de país.
Um país desconhecido, num momento de colonização do território, índice populacional baixo, falta de estrutura urbana, em divisa com o Brasil de livre entrada e saída de qualquer civil – esse era o Paraguai na década de 1970. Após um ano, Hugo atravessa a Fronteira e dá continuidade a sua batalha, mas em meio a outro modo de vida.
Nada foi fácil, com a indicação de novas pessoas (parentes) Hugo foi com a família para o Paraguai em 1971 e começou ‘tudo’ denovo na cidade de Los Cedrales – próximo a Ciudad del Este, a qual antes de se tornar um município foi propriedade de um único fazendeiro brasileiro.
O trabalho braçal foi seu início, tendo de sustentar seus sete filhos, que o acompanharam. Com o fruto do trabalho obtido no interior de São Miguel do Iguaçu deu entrada para a compra de 14 alqueires, cultivando hortelã e algodão finalizou o pagamento. “Teve uma vez que meu caminhão atolou e tive de jogar duas vacas e um aparelho de boi para fora do caminhão”, comenta Hugo sobre o Paraguai em 1972, quando era escassa a estrutura urbana do local.
Entre os dez filhos de Hugo Bordgnon, um já era independente, sete foram com ele para o Paraguai (estudaram no Brasil até a sexta série fundamental), e dois deles ficaram no Brasil estudando. Trabalho e mais trabalho! O tempo era insuficiente. Naquele período eram comum as pessoas do meio rural não terminaram os estudos, pois acreditavam que um pouco de estudo bastava para saberem se defender na vida. “Meus filhos estudaram só para se defenderem”, cita Hugo.

Má recepção e dias difíceis
Ao chegarem no Paraguai debateram com uma diversidade de idéias, costumes, culturas, língua e essencialmente, legislação.
O lugar que escolheram morar era de território dos paraguaios. Qualquer comportamento chamava a atenção por serem de outra origem. Muitas vantagens levaram Hugo para o Paraguai, porém as dificuldades foram surgindo.
Pontos positivos dos solos paraguaios fazem com que qualquer agricultor sonhe alto. Começando pelo valor das terras. No Brasil o preço por alqueire é de 40 mil e no Paraguai é de 25 mil reais, além do imposto de terra do país vizinho ser menor, relata Hugo. “Lá no Paraguai as terras são mal empregadas, essas condições poderiam ser no Brasil, porque além de férteis são mais baratas”, diz ele.
Mesmo depois de Hugo ter seu pedaço de terra, comprando de maneira legal os 14 alqueires, a convivência paraguaia não era favorável. Cada passo maior era motivo de descontentamento. “Os paraguaios não tratam muito bem os brasileiros. Parecem ter inveja do nosso crescimento, porque ficam duvidando de como ‘nós’ conseguimos mudar de vida tão rápido”, observa.
Até os objetos pessoais incomodam os civis do lado paraguaio. “Parece que não há lei no Paraguai, retiram os objetos dos brasileiros, e as autoridades de lá não fazem nada para impedir. Passei por isso quando comecei a morar lá”, comenta Hugo.

Motivo e problemas de ocupação brasiguaia
O Paraguai é um país pouco desenvolvido, mas possui condições de compra de terra adequadas e com baixo preço. Por isso a emigração de brasileiros para o Paraguai foi tão intensa nas décadas de 60 e 70. Os brasileiros sendo proprietários de grandes percentuais de terras ocasionaram uma tensão com o país vizinho, ou seja, possuir terras é um dos problemas de ser brasiguaio.
O limite de terras conforme a lei da faixa de fronteira amedronta ainda mais os brasiguaios. Ainda não se houve falar muito, mas de acordo com o Consulado brasileiro o governo paraguaio tenta colocar em prática. Portanto muitas famílias donas de terras do país vizinho podem estar habitando de maneira ilegal.

Valeu a pena!
Mudança repentina, pensamento positivo pela oportunidade de melhorar de vida – foram características que levaram Hugo Bordgnon a chegar aonde chegou. Em Santa Catarina dizia não viver muito bem, quando chegou no Paraná a vida também foi difícil. E acredita que entrando no país de Fronteira muita coisa mudou. “Valeu a pena todo este esforço. Na agricultura as condições de vida são melhores no Paraguai, tanto que os meus sete filhos moram lá e nem querer voltar para o Brasil”, finaliza.

O ‘Fim justificou os meios’
Nos dias de hoje, Hugo Bordgnon segue com 50 alqueires para a produção de soja, também na cidade de Los Cedrales, onde dividiu entre os sete filhos, que administram estas terras e moram no local com suas famílias. Hugo mora com a esposa em São Miguel do Iguaçu e vai para estas terras toda a semana.

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