quinta-feira, setembro 17, 2009

MST não preserva fundamentos revolucionários

"Não nego a necessidade objetiva do estímulo material, mas sou contrário a utilizá-lo como alavanca impulsora fundamental. Porque então ela termina por impor sua própria força às relações entre os homens”, expresso por Ernesto Rafael Guevara de La Serna, mais conhecido como Che Guevara. Essa frase sustentava uma fase dos valores de um dos principais movimentos sociais do país, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
O movimento se identificou nessa denominação de Che Guevara quando da sua formação há 25 anos. Entre os instintos que assinalam os participantes como socialistas é a negação pelo domínio aquisitivo: abandono dos objetos materiais, o repúdio a qualquer forma de opressão, uma condição em desagrado com as aparências e com o que a elite define como os rumos a seguir.
Distantes disto, também de acompanhar o controle e as mesmices que a vida globalizada oferece a humanidade, essas 71 famílias do Assentamento Antônio Companheiro Tavares de São Miguel do Iguaçu – distantes 40 km de Foz do Iguaçu - escolheram uma moradia simples, em condições mínimas para encontrar no espírito de liderança as ações revolucionárias. Todo um povo coercivo ao poder capitalista, que prefere o conceito do socialismo.
O certo seria neste pressuposto revolucionário co
mbater as lutas de classes, ser condizente que os bens da sociedade deveriam ser distribuídos de maneira equitativa. Mas não é o que se vêem das buscas que restaram nas mentes das famílias assentadas. É o que acredita Altair Simionatto, 43 anos, agricultor assentado e filiado ao MST há 12 anos. “O movimento se desvirtuou. Aceitou fazer acordos com o governo a troco de ajuda de custo para ONGs, afim de não invadirem outras propriedades”, questiona Simionatto.
“Fiquei quatro anos sem luz. Para tomar banho divid
íamos horários entre homens e mulheres para ocupar os rios. Uma mina foi encontrada para consumo e o banheiro era uma espécie de patente”, conta Simionatto quando chegou no Assentamento em 1998. Ele, mais 200 famílias se reuniram por acreditar na reforma agrária.
“Acredito na luta pela terra na necessidade de di
minuir os problemas sociais no campo e na cidade e para o desenvolvimento do país. Quando iniciei como sem-terra acreditava numa mudança social através da revolução”, expõe como motivação ideológica.
Após os militantes tomarem posse das terras, por voto democrático as famílias escolheram ter cada lote individualmente. Isso, conforme Simionatto demonstra o pensamento do pequeno burguês em possuir benefícios materiais. Ele c
ritica que o MST segue outra ideologia, o 'revisionismo', cuja dialética acredita que é possível a transição de capitalista para socialista pacificamente. “Assim um dono de uma multinacional dividiria a empresa com os funcionários?”, questiona ele.

Crime que deu nome
Altair tem uma longa trajetória com organizações sociais. A maior manifestação que participou foi a Marcha para a capital paranaense em 2000, q
ue denunciavam a morosidade do INCRA e pedido de resolução sobre os problemas sociais que se agravavam no Estado. No caminho, os militantes passaram por escolas discutindo as ideias do movimento e o cenário vivido pelo país.
E foi com essa manifestação que a antiga Fazenda Mitacoré (onde se localiza o assentamento de São Miguel do Iguaçu) recebeu o nome Assentamento Antonio Companheiro Tavares. A marcha reuniu cerca de 1500 trabalhadores rurais em 50 ônib
us. Há5 km de Curitiba foram bloqueados pela Polícia Militar no trajeto da BR 277, onde foram surpreendidos por bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e também de chumbo. Durante a operação, o lavrador Antônio Tavares Pereira foi assassinado com um tiro no abdômen. Estimou-se 180 sem-terra feridos no confronto.
Na época, o governador do Estado era Jaime Lerner que tentou convencer a opinião pública que Antônio Tavares não se tratava de um integrante do MS
T. A versão do secretário de Segurança Pública era que fora vítima de acidente de trânsito e não da repressão.
Um delegado abriu inquérito e confirmou a versão do MST, pouco depois foi afastado do comando das investigações.

Entenda a ocupação
São mil hectares de terra que pertenciam ao Grupo Bam
erindus do ex-senador José Eduardo de Andrade Vieira, com o nome de Mitacoré tinha a imagem de servir como fazenda-modelo através de experimentos. Porém, eram com insumos tóxicos. Mais tarde, com dívidas as terras tiveram intervenção federal, decretada pelo Banco Central. Com essa informação de território federal, 200 famílias ocuparam a antiga fazenda há 12 anos. Empresários locais tentaram impedir a consolidação da ocupação, que pretendiam transformar a propriedade em Universidade do Agricultor. “O projeto da Universidade era uma forma de também pedirem a desapropriação das terras e se apropriar do que havia na propriedade para fins empresariais”, revela Simionatto. As 71 famílias estão entre cerca de dois milhões de pessoas que levantam a bandeira vermelha do MST em 24 unidades do país. Ao contrário desses interesses, ele defende que os impostos que o município de São Miguel do Iguaçu arrecada com a produção dos moradores do assentamento estimulou o desenvolvimento local. São 5000 litros de leite produzidos por dia pelos agricultores assentados.Ilusão ou ousadia? Jovens ainda participam de movimento pela democratização das terras. De um lado, juventude se filia a partido socialista e de outro, grupo crê na reforma agrária

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