quinta-feira, setembro 17, 2009

Nos cafundós de São Miguel do Iguaçu, a cultura negra mostra a face com cor do Paraná

A descendente de negros apresenta a fruta Apepu que deu nome a comunidade

Em 20 de novembro será comemorado a consciência negra. Essa data traz a lembrança que São Miguel do Iguaçu tem o privilégio de possuir num distrito, uma comunidade quilombola, formada por mais de 20 pessoas afrodescendentes.
Para ser reconhecido como remanescentes de quilombo, a comunidade deve ter descendentes de escravos, cor da pele negra, viver em comunidade, desenvolver trabalho que compartilham o cultivo. Além de continuar com as tradições, tais como medicina natural (ervas), agricultura familiar, artesanato, folclore e partos caseiros.
A história de vida da comunidade é memorável porque trata de uma luta pela sobrevivência, que ia além dos limites físicos. “Vejo que é um reconhecimento do papel histórico negro, em âmbito nacional, além de procurar recompensá-los pelos abusos e trabalhos explorados antigamente”, diz a assistente social, Eliane Simonatto.
Rafaela, Aurora, Zacarias e Josefa Correia são os quatro irmãos que habitam os quilombos em Apepu, onde são dez alqueires, destinados a subsistência das famílias.
Os avós da família Correia eram escravos de uma fazenda em Minas Gerais, e quando foram libertados vieram para Laranjeiras do Sul, no Paraná, após, trabalharam na região oeste na rodovia do Parque Nacional (antiga estrada de Guarapuava). Em troca dos serviços prestados na região receberam terras, onde atualmente residem. “Eles não visam o lucro e status, mas o conhecimento e a liberdade, tendo como princípio a valorização com os mais velhos e com as mulheres”, finaliza Eliane.
Inicialmente em agosto de 2006, a comunidade passou por um processo de certificação, através da Secretaria Estadual de Educação. Em novembro de 2006 foram reconhecidos. Atualmente existem no Paraná, 34 remanescentes de quilombos.
Morada simples com pessoas simples. Uma vida em comunidade, levada de forma humilde. É o que qualquer pessoa poderá encontrar na comunidade quilombola, localizada no distrito de Apepu – São Miguel do Iguaçu. Porém essas pessoas agora têm mais a contar do seu passado e do seu futuro.

Curiosidade
A curiosidade do dia foi saber o significado do nome da comunidade. Segundo o irmão mais velho, Zacarias Correia, Apepu é pelo fato daquela localidade quando ainda era mata, ter sido rodeada de plantas nativas com uma laranja da origem Apepu. Um fruto de casca grossa, com gosto azedo. E ainda é encontrada essa árvore na comunidade.

Educação
Outra novidade está na alfabetização dos moradores de Apepu. Seis deles estão voltando a estudar, onde se deslocam à área urbana para frequentar o Centro de Estudo para Jovens e Adultos de São Miguel do Iguaçu. Os demais quilombolas recebem a didática escolar na própria casa, com uma professora que mora na comunidade.

Biblioteca
A Eletrosul, ligada ao governo federal, entregou no ano passado livros para formação de uma biblioteca para a comunidade quilombola. Zacarias é um dos que voltaram a estudar. Assim, ele e os demais tornaram a leitura como algo mais frequente.O representante da Eletrosul voltou a São Miguel do Iguaçu, no dia 15 de maio, para entregar um computador à comunidade.

Tradições
Religião católica, uso de ervas medicinais e partos caseiros são tradições da família quilombola. A 3 km de onde moram se localiza a igreja católica construída em 1945 pelos avôs dos irmãos Correia, na época era de madeira, e agora os moradores a reformaram em alvenaria.
A quilombola Rafaela Correia fala do aprendizado com meios naturais, passados por sua mãe Dejanira Correia. Ela realizava muitos partos de crianças ali na comunidade na década de 60, quando ainda São Miguel do Iguaçu estava no início de sua colonização. Além disso, Dezanira utilizava medicamentos retirados da natureza para tratamento de saúde dos filhos.A pequena igreja de poucos metros quadrados foi construído após promessa do pai dos Correia. De madeira se tornou alvenaria. Cultos e pagamentos de promessas ainda são celebrados neste espaço

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